A alegria de ser uma pessoa com dignidade!
Muitos anos atrás, em um sítio afastado da cidade,
uma humilde lavradora costumava recolher retalhos de cores variadas e bem
vistosas. Quando tinha retalhos suficientes, com a dedicação de quem gosta
daquilo que faz, costurava-os um a um com um ponto pequeno, firme e adequado,
unindo-os de tal forma que não havia risco de se separarem e de o trabalho se
desfazer.
Depois de vários dias e várias semanas costurando
retalhos, com suas mãos hábeis e delicadas, ela estendia a peça sobre a cama de
casal e sorria diante da obra de sua fé, confiança, auto-estima e dedicação.
Era uma colcha multicolorida que alegrava os olhos
de toda a família e que pesava o suficiente para manter-se na cama sem
escorregar para o chão. Os retalhos, bem costurados, guardavam calor para o
amor dos esposos. Era como um cobertor, que abrigava para oferecer descanso,
aquecia para dar energia e fazia adormecer para sonhar.
Perto desse sítio havia uma escola com uma única
professora, que tinha a responsabilidade de ensinar todas as disciplinas. Ela
não era especializada em nenhumas delas, mas preparava muito bem suas aulas
para cumprir com eficiência o seu trabalho.
As pessoas, ao se referirem a ela, diziam que
tinham uma mística, uma vocação e um modo estranho de dinamizar a aprendizagem.
Em matemática ensinava a honestidade, dizendo que se deve aprender a fazer
contas e usar os números para não se enganar e nem enganar a ninguém.
Ensinava a multiplicar serviço, a somar cooperação, a subtrair má-vontade e a dividir lucros e virtudes e entre todos. Associava a matemática com as disciplinas sociais, relacionando as operações ao tempo e ao espaço.
Ensinava a multiplicar serviço, a somar cooperação, a subtrair má-vontade e a dividir lucros e virtudes e entre todos. Associava a matemática com as disciplinas sociais, relacionando as operações ao tempo e ao espaço.
Fazia viagens geográficas pelo mundo e pela
história, ressaltando a bondade dos protagonistas. Valorizava não só os
inventores, os líderes e os generais, mas também os soldados, os indígenas, os
comerciantes e os lavradores.
Ensinava a amar a arte, os artistas, as obras e os
artesãos; mostrava a beleza da natureza e a relacionava com a gratidão de Deus.
Unia a vida do universo com a do ser humano e com a
de todas as criaturas na área das ciências naturais.
Por meio dos sinônimos, antônimos e conjugações,
mostrava a importância da comunicação, quando expressa por palavras elegantes,
otimista, delicada, respeitosa e tolerante.
Na área do desenho, deixava voar a imaginação com
os símbolos que tivessem significado para a vida, a família, a pátria, a
identidade e o sentido de pertencer à mãe terra.
Acreditava na brincadeira e misturava-se aos alunos
nos momentos lúdicos que enchiam aprendizagem de alegria e espontaneidade.
Era uma professora que unia os valores a todas as
disciplinas. Como a camponesa que tecia os retalhos, essa mestra costurava
conhecimentos entre si com um ponto que dava consistência a todos.
Como aquela mulher, ela tecia uma colcha que se
transformava em formação integral. Era uma educação única, que entusiasmava os
alunos com o dinamismo necessário para manter o interesse do grupo. Entre uma
disciplina e outra, a costura conseguia fazer com que a educação servisse para
a vida. Nenhuma disciplina era um retalho separado. Unidas, concentravam calor,
alegria e otimismo.
Era uma professora que transmitia amor por seu
trabalho. Para ela, lecionar era um meio de formação holística. Compreendia que
os valores não se ensinam, mas integram-se ao trabalho, são vividos e sentidos.
A ética era uma costura com a qual ela tecia não só
conhecimentos, mas também seu próprio trabalho, sendo consequente e dando o
melhor de si.
Mais do que a mente, ela atingia o coração dos jovens.
CANO, Betuel. Ética: Arte de Viver: A alegria de ser uma pessoa com dignidade, volume 1. São Paulo: Paulinas, 2000.
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