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terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma Parábola...

DEVORAR TODOS OS BOMBONS É UMA ATITUDE
AUTODESTRUTIVA
Normalmente tranquilo e seguro de si, Jonathan Patient parecia um pouco abatido ao deixar uma tensa reunião de ne gócios. Ao entrarna limusine, pôde ver seu motorista enfiando na boca o último pedaço
de hambúrguer coberto com ketchup.
– Arthur, você está comendo o bombom de novo! – disse, em tomde reprovação.
– Bombom? – Arthur ficou surpreso tanto pela rispidez do chefecomo por suas palavras. (O magnata do mercado de tecnologia eraco nhecido por usar e abusar de metáforas.) – Para falar a verdade, era umBig Mac. Não ligo muito para doces. Nem me lembro da última vezque comi um bombom. Deve ter sido na Páscoa...
– Calma, Arthur. Sei que você não estava comendo um bombomde verdade. Só que passei a manhã ao lado de “devoradores de bombons”e fiquei decepcionado ao ver você fazendo a mesma coisa.
– Estou sentindo que vem uma história por aí, Sr. Patient.
– Isso mesmo, Arthur. Vou contá-la a caminho de casa. A
Esperanza está preparando uma magnífica paella, que você adora, se me recordo bem. Pedi a ela que começasse a servir às 13 horas, ouseja, daqui a 20 minutos, o que vai coincidir com o ponto central da
minha história, como você verá.
– Mas o que o bombom tem a ver com isso?
– Paciência, Arthur. Paciência. Logo, logo você vai saber.
Arthur deu partida na luxuosa limusine Lincoln e se embrenhousuavemente no trânsito do centro da cidade. Depois, enfiou o exemplardo New York Times com as palavras cruzadas quase terminadas
no para-sol do lado do carona. Jonathan Patient acomodou-se nobanco de couro traseiro e começou a falar.
– Aos quatro anos, participei de um estudo que mais tarde se tornou bastante conhecido. Não que eu fosse uma criança especial.
Simplesmente tinha a idade certa no momento certo. Meu pai fazia MBA em Stanford, e um de seus professores estava pro curando meninose meninas do pré-escolar para fazer parte de uma experiência
sobre os efeitos da gratificação adiada. Basi camente tratava-se do seguinte: crianças como eu eram deixadas sozinhas numa sala. Umadulto entrava e colocava um bombom na nossa frente. Em seguida,
dizia que precisava sair por 15 minutos e avisava que, se a gente não comesse o doce enquanto ele estivesse fora, ganharia um segundo bombom na sua volta.
– Dois por um. Um investimento com 100% de retorno! Mesmo para uma criança de quatro anos, era uma situação bem in te ressante
– comentou Arthur com humor.
– Com certeza. Mas, aos quatro anos, 15 minutos é um tempo muito longo. E, sem um adulto por perto para dizer não, era muito difícil resistir à tentação – lembrou Jonathan.
– E o senhor comeu o bombom?
– Não, mas fiquei tentado uma dúzia de vezes. Cheguei a lam bê-lo.
Estava morrendo de vontade de saborear aquele bombom. Tentei cantar, dançar, qualquer coisa que me distraísse. De pois do que pareceram horas de espera, a simpática mulher voltou.
– E ela lhe deu mais um bombom?
– Deu sim. E foram os dois melhores bombons que já comi na minha vida.
– E qual era o propósito da experiência? Eles lhe disseram? – perguntou o motorista.
– Não na época. Só vim a saber muitos anos depois. Os mesmos pesquisadores fizeram o possível para encontrar o maior número de “crianças do bombom” – no primeiro estudo éramos cerca de 600, eu
acho – e pediram aos pais que avaliassem os fi lhos em uma série de habilidades e características pessoais.
– E o que seus pais disseram a seu respeito?
– Nada. Eles nunca receberam o questionário. Naquela altura, eu já estava com 14 anos e nós havíamos nos mudado algumas vezes.
Contudo, os pesquisadores encontraram umas 100 “famílias do bombom”, e os resultados foram impressionantes. Descobriram que as crianças que não comeram o doce, e até aquelas que resistiram à
tentação por mais tempo, saíam-se me lhor na escola, tinham mais facilidade para se relacionar socialmente e administravam o estresse melhor que as crianças que devoraram o bombom assim que o adulto saiu da sala. Aqueles que resistiram tiveram mais sucesso do que os que comeram a guloseima.
– Com certeza, o senhor se encaixa na definição dos bem-sucedidos
– disse Arthur. – Mas ainda não entendi como não ter comido
um bombom aos quatro anos poderia transformá-lo em um bilionário da web aos 40.
– É claro que não é uma consequência direta. Mas a capacidade de adiar a gratificação por iniciativa própria provou ser um forte indicador de realização.
– Por quê?
– Vamos voltar ao comentário que eu fiz quando o vi comendo aquele Big Mac. Ou melhor, tente lembrar o que você me disse hoje de manhã sobre a paella da Esperanza. Ela não tinha prometido um
prato caprichado para você comer no almoço?
– Para falar a verdade, ela disse que reservaria a melhor parte para mim, aquela com mais lagosta – revelou Arthur, sorrindo –, mas não era para eu lhe contar.
– E, mesmo com toda essa mordomia, o que você estava fazendo 30 minutos antes de ela lhe servir a melhor paella da cidade?
– Comendo um Big Mac... comendo o bombom! Agora entendi.
Não aguentei esperar pelo almoço e estraguei o apetite com uma coisa que posso ter a qualquer hora.
– Isso mesmo. Preferiu a gratificação instantânea, em vez de esperar por algo que realmente quisesse.
– Puxa vida, o senhor tem toda a razão. Mas ainda não entendi a moral da história. Será que comer ou não comer os bombons tem alguma relação com o fato de o senhor estar sentado no banco traseiro
da limusine, relaxando, enquanto eu estou aqui, dirigindo?
– Arthur, o que posso lhe dizer é que acredito que a capacidade de adiar a gratificação faz toda a diferença do mundo. Ama nhã, no trajeto até o escritório, eu lhe explico um pouco mais sobre a teoria do bombom. Espero você às nove horas. Es tou ansioso pelo almoço delicioso que está me esperando. E você, Arthur? O que vai fazer?
– Ficar longe da Esperanza até que tenha apetite de novo.

Arthur saltou, abriu a porta do carro e depois a da casa para Jonathan Patient. Além de lhe pagar um bom salário, o Sr. Patient lhe ensinara lições valiosas nos últimos cinco anos. Embora ainda não entendesse por que, desconfiava que a teoria do bombom seria a mais importante de todas. Decidido, o mo to rista saiu da propriedade e foi até o mercado mais próximo. Comprou uma caixa de bombons.

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